terça-feira, 29 de setembro de 2015

Curitiba e o sistema de ônibus mais famoso do Brasil

O sistema de transporte curitibano, com os famosos ligeirões articulados e com seus ligeirinhos cinzentos, é um dos primeiros modelos de desenvolvimento de uma rede de transportes conectada e integrada no Brasil, se destacando o fato de se apoiar apenas no modal rodoviário, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro desenvolviam seus projetos metroviários. O modelo curitibano foi projetado a pedido da prefeitura nos anos 60 pela equipe de arquitetura da UFPR, liderada pelo senhor Jaime Lerner (que posteriormente viria a ser prefeito de Curitiba e governador do estado do Paraná) em que se traduz na criação de corredores de transporte de alta capacidade ao longo das principais ruas e avenidas que conectam o Centro às áreas periféricas.
Em 1974 entraram em operação os primeiros corredores exclusivos ao fluxo de ônibus, com estações de embarque substituindo os tradicionais pontos de parada demarcados por placas ou estacas no chão, e aliado ao desenvolvimento dos corredores, foram determinadas medidas de zoneamento urbano para estimular o adensamento de edificações ao longo dos corredores, o que com o tempo traduziu-se em uma intensa verticalização junto a esses eixos de transporte. Esse modelo permitiu uma ocupação do solo urbano de forma ordenada a medida em que a capital paranaense crescia e se espalhava, reunindo residências e locais de trabalho junto a esses corredores de grande capacidade de transporte.
Terminal São Pedro, em uma área de intensa verticalização


Os corredores também se modernizaram a medida do tempo, incorporando ônibus articulados e as estações-tubo com o pagamento na entrada e com o embarque e desembarque no mesmo nível do ônibus; e os Terminais de Integração, aonde o usuário pudesse realizar a transferência entre as linhas do corredor com linhas locais, alimentadoras, interbairros ou metropolitanas de forma gratuita ou com desconto tarifário. Houve a incorporação do serviço ligeiro, conhecido popularmente como ligeirinho, ligando os terminais nos bairros periféricos ao Centro com pouquíssimas paradas no trajeto, usando vias paralelas aos corredores, destinadas no projeto original apenas aos automóveis.
Ônibus Convencional Híbrido

Esse modelo de desenvolvimento de uma rede de transporte de grande capacidade (na época) aliada a medidas de zoneamento urbano que induzissem ao adensamento de residências e atividades econômicas ao longo de seus eixos teve grande repercussão no Brasil e no mundo, se tornando a precursora do que seria denominado como sistema de BRT (Bus Rapid Transit), além de se tornar uma das marcas mais conhecidas de Curitiba. Sistemas BRT como o Transmilênio de Bogotá, o Move de Belo Horizonte e os corredores BRT do Rio e de São Paulo foram desenvolvidos a partir da experiência curitibana.
Adensamento de edifícios as margens dos Corredores de Ônibus


Até hoje ainda se abrem novos corredores de ônibus na cidade, como é o caso da Linha Verde, inaugurada em 2012 ao longo do trecho da Rodovia Régis Bittencourt dentro da área urbana curitibana, que recebe o biarticulado 550 entre o Centro e o Boqueirão, recebendo além das estações tubo tradicionais uma ciclovia com bicicletários junto às estações, reformulação das calçadas e novas áreas ajardinadas. Outras ciclovias foram sendo incorporadas na cidade ao longo dos corredores e ligando os terminais de integração aos bairros ao redor.
Corredor Boqueirão com ciclovias em paralelo

Hoje o sistema curitibano de transportes é organizado como RIT - Rede Integrada de Transportes, que é fruto da regulamentação de todo o sistema de transporte metropolitano de Curitiba, portanto qualquer outra forma de transporte coletivo dentro da região metropolitana é informal.
Algumas das características operacionais (2013):
Transporta 2 milhões de passageiros por dia em todo o sistema, abrangendo toda a região metropolitana de Curitiba.
A RIT é gerenciada por uma empresa pública de economia mista - a URBS.
A frota total de veículos é de 1915 ônibus, considerando todos os tipos de serviço disponibilizados.
Ela possui cerca de 72 quilômetros de corredores segregados compostos das paradas-tubo e dos terminais de integração, por onde rodam os ônibus biarticulados de cor vermelha ou azul, caracterizados como serviço Expresso, onde cada veículo tem capacidade para até 200 passageiros. Os principais corredores são Santa Cândida / Pinheirinho, atravessando a cidade no sentido Norte-Sul; Campo Comprido / Centenário - Pinhais, no sentido Leste-Oeste, e Boqueirão/Carlos Gomes, que liga o Centro a bairros da Zona Sul. Eles são constituídos na maioria dos casos por uma pista de mão dupla, de cobertura asfáltica, permitindo a passagem de apenas um ônibus por sentido, inviabilizando por exemplo ultrapassagens entre os coletivos. O corredor da Linha Verde, no entanto, possui espaço para ultrapassagens e é pavimentado com concreto, material mais resistente ao peso dos ônibus.
A separação física entre os corredores e as vias de fluxo comum é feita por meio de canteiros e calçadas.
Corredor Pinhais/Campo Comprido

As estações-tubo foram desenvolvidas com o intuito de possibilitar o embarque em nível nos ônibus e de efetuar o pagamento da tarifa antes de entrar nos ônibus, com a presença de um cobrador na entrada da estação. Importante mencionar que nas estações só se pode trocar de linhas que estejam seguindo no mesmo sentido, apenas dá para fazer conexão com linhas que sigam no sentido oposto do corredor nos Terminais de Integração.
Estação-Tubo Carlos Gomes

Os corredores atendem a importantes pontos de interesse da cidade como o Centro Cívico, a Rodoferroviária e o Jardim Botânico. Alguns dos serviços que operam nos corredores atendem aos municípios vizinhos de Curitiba, como São José dos Pinhais.
Outros serviços de transporte dentro da RIT:

-Linhas Alimentadoras: Ligam os Terminais de integração aos bairros adjacentes, cujos veículos são caracterizados pela cor laranja


-Linhas Interbairros: São linhas periféricas que interligam vários bairros e terminais sem usar os corredores e sem passar pelo Centro, seus ônibus tem a cor verde.


-Linhas Diretas (Também conhecida como Ligeirinho): Os ônibus tem a cor cinza e atravessam a cidade em poucas paradas, usando ou não os corredores de ônibus, parando apenas nas estações-tubo designadas. Um desses serviços liga o Centro e a Rodoferroviária ao Aeroporto Internacional Afonso Pena.


-Linhas Convencionais: De cor amarela, essas linhas ligam o Centro a locais ainda não atendidos pela rede de corredores, usando as ruas e avenidas de fluxo comum. Algumas linhas fazem integração gratuita com outros serviços nos Terminais de Integração.

-Linha Turística: Serviço especial feito em ônibus de dois-andares de cor verde-claro que roda em um circuito designado a atender a todos os principais pontos turísticos de Curitiba como o Centro Histórico, o Museu Oscar Niemeyer, o Jardim Botânico e a Ópera de Arame, entre outros. O preço em Junho de 2013 era de 15 reais, mas o bilhete era válido pelo dia inteiro.

Alguns dos desafios do RIT:

O crescimento da rede de corredores não acompanhou no mesmo ritmo o crescimento urbano e populacional de Curitiba, e como resultado o sistema apresenta momentos de muita lotação, enquanto que a taxa de carros por habitante da cidade é cada vez maior, reabrindo as discussões para a implementação de uma rede metroviária na capital paranaense, evidenciando os limites da capacidade de transporte dos corredores.
Eixo de adensamento junto ao Corredor Boqueirão. Fonte: Prefeitura de Curitiba

A conexão com os modais não-motorizados evolui de forma gradativa, mas ainda são poucos os terminais com bicicletários ou atendidos por ciclovias. Os corredores mais modernos como a Linha Verde já foram desenvolvidos com esses elementos envolvidos no projeto.
Apesar dessas observações, eu achei o sistema curitibano ainda muito respeitado pelos seus usuários, vi que muito da sua estrutura como estações e frota estão bem conservadas, com poucos sinais de depredação mesmo em áreas periféricas. Achei curioso a bilhetagem eletrônica ainda estar engatinhando enquanto outras cidades do Brasil extinguiram o dinheiro vivo do sistema de transporte, talvez represente a confiança das autoridades e dos usuários na segurança e integridade desse sistema. Aos domingos ainda há a tarifa social válida por todo o sistema, na minha ida a Curitiba em 2013 paguei R$ 1,00 para ir ao Aeroporto!

Até a próxima!







2 comentários:

  1. Boa Nuno.
    Em uma visita a Curitiba utilizei o onibus turistico. Vale a pena para conhecer alguns pontos turisticos.
    Ainda aproveitei um corredor expresso pra ir à um jogo do Coxa.

    Abraços,
    LM

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  2. Excelente matéria, Nuno.
    O que eu vejo como diferencial do sistema de transporte de Curtiba, do resto do país, é em parte da própria concessão do transporte, que mantem o sistema funcionando em boa qualidade...ônibus, estações, corredores, além de muito bem conservados, são de uma qualidade e um bom gosto excelente, ao contrário do que se vê por aqui.
    O segundo ponto é o legado que um transporte bem sucedido já há 40 anos deixa para a população. Apesar do adensamento de veículos estar a todo vapor no país, eu vi o povo curitinbano muito integrado ao transporte...todos usam, cuidam. O nível de capital social gerado é incrível...acho que falta muito disso no rio. A tarifa domingueira é sensacional! Que puta incentivo, para um pai, com a sua familia, ir gozar do lazer aos domingos usando um transporte público de qualidade...incentivando menos carros nas ruas...Curitiba, mesmo com esses problemas que vc citou, ainda é um grande modelo.

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