terça-feira, 15 de setembro de 2015

BRT, VLT, Monotrilho, o que são os novos meios de transporte nas cidades brasileiras

Você provavelmente já leu ou ouviu algumas dessas expressões -BRT, BRS, VLT- em reportagens a respeito de novidades no transporte da sua cidade. Geralmente são anunciadas com muita pompa pelos governantes como a solução para os gargalos no trânsito e pela má-qualidade do transporte público.
Mas a verdade é que ainda falta muita informação a respeito de cada um desses temas e, como resultado, muita gente ainda bóia quando os ouve. Há 10 anos, por exemplo, essas palavras não passavam nem perto da boca do povo e dos políticos. A moda nas grandes cidades era (e ainda o é até hoje) é expandir metrô e racionalizar os ônibus.

De lá pra cá, no entanto, alguns fatores foram surgindo. Um deles foi o aumento forte do número de veículos particulares desde lá até hoje nos médios e grandes centros urbanos, trazendo as habituais mazelas de engarrafamentos, poluição atmosférica e sonora, e dificuldade para estacionamento dos veículos. Em diferentes escalas, isso causou uma pressão política e social para maiores investimentos no transporte público para que esse setor não permanecesse (ainda mais) defasado em recursos e saísse da estagnação no número de passageiros e na qualidade do serviço.

Em 2012, o Governo Federal estabeleceu a Lei 12.587/12, conhecida como "Lei da Mobilidade Urbana", que estabelece que todos os municípios com população acima dos 20 mil habitantes precisam desenvolver um plano de mobilidade que oriente o crescimento populacional junto a evolução dos meios de transporte, de preferência os não-motorizados e os coletivos. Os que não forem capazes de desenvolver esse plano dentro do prazo ficam sujeitos a perda de recursos, de empréstimos e de repasses de verba do governo federal.

Com 4 anos para estabelecerem suas metas, as cidades alvo dessa lei passaram a realizar estudos de demanda, de impacto e de recursos para criarem os projetos de mobilidade e implementarem as obras de infra-estrutura necessárias, e daí vieram as idéias e motivações para a criação de BRTs, BRS e afins. O motivo da escolha de cada um se dá por vários motivos, custo-benefício, demanda (indice de passageiros por quilômetro), prazos e tecnologia.
Bora então decifrar o que é cada um desses temas:

BRT: A sigla de Bus Rapid Transit - Corredor rápido de ônibus. Ele já teve muitos nomes de acordo com a região do país: Papa-fila, Fura-Fila, Ligeirão, Expressão, Eixão.
BRT Move de Belo Horizonte
O BRT é uma evolução das faixas exclusivas para ônibus, aquelas pintadas na rua, com algumas características próprias: A pista do BRT é totalmente segregada do fluxo normal de veículos, os veículos em geral são articulados ou bi-articulados (capacidade de transportarem entre 150 e 250 passageiros por hora) e o embarque e desembarque de passageiros é realizado em estações ao invés de pontos, com o pagamento da tarifa na entrada da estação ao invés de direto nos ônibus. Os custos e prazo de implementação desse sistema são menores do que para construir sistemas de metrô e trem, mas a capacidade de transportar passageiros é menor, ao redor de 400 mil passageiros diários, enquanto que metrôs e trens podem transportar na casa de milhões de passageiros por dia.

Geralmente, os corredores BRT ligam terminais de grande volume de passageiros nas áreas centrais para bairros populosos nas periferias, onde há conexão com outros modais de transporte, como as linhas alimentadoras, e até com outros modais de transporte como metrô e trem. O BRT Transcarioca do Rio de Janeiro, por exemplo, conecta-se com todas as linhas de trem, linha 2 do metrô e com o Aeroporto Internacional, além de muitas linhas alimentadoras.
BRT Transcarioca no Aeroporto do Galeão

O Expresso Tiradentes, em São Paulo, foi construído em substituição a um projeto de monotrilho que teve suas obras embargadas por 10 anos, e um dos seus trechos se sustenta sobre as pilastras da antiga construção, colocando o BRT acima do nível da rua, escapando de semáforos e de cruzamentos, e agilizando ainda mais o transporte dos passageiros. Mas é um caso atípico dentre os demais onde houve um reaproveitamento de um antigo projeto de transporte em que se deu um "jeitinho" para não se perder o investimento feito anteriormente.
Corredor Elevado e Frota Híbrida do BRT Expresso Tiradentes


A primeira experiência de um sistema BRT no Brasil se deu em Curitiba, em 1974, com a criação das estações e corredores dedicados exclusivamente ao fluxo de ônibus. Aliado ao crescimento do sistema, o planejamento urbano da cidade foi orientado no adensamento e na verticalização das edificações ao longo dos corredores, o que fez do sistema de Curitiba um modelo a ser seguido em outras grandes cidades do Brasil e do mundo. Porém foi a sua introdução como transporte de massa em Bogotá, na Colômbia, que o colocou em evidência na elaboração de novos planos de mobilidade urbana das grandes urbes.

                  

O BRT representa em muitos dos casos uma oportunidade para reorganizar os itinerários e frota de ônibus das cidades, e recuperar a estrutura viária do seu itinerário, como a introdução de novas vias, calçadas, jardins, implementação de ciclovias e de estruturas públicas como parques, espaços culturais e sociais junto às estações, como foi de fato feito no Transmilênio de Bogotá.

No entanto, o BRT não deve ser visto como a única solução nas grandes cidades, uma vez que todos os seus benefícios podem ser perdidos se sujeitos a uma grande demanda, que implica em mais ônibus, mais desgaste de material e situações de lotação durante todo o dia. Embora alguns de vocês possam identificar o cenário, o exemplo do BRT Transmilenio de Bogotá, que eu tive a oportunidade de ir conhecer e analisar pessoalmente, é o que melhor traduz a situação.



Hoje a cidade do Rio de Janeiro aposta alto no sistema BRT, justificando que o modal promove conforto e rapidez aos usuários com uma frota 100% climatizada e corredores exclusivos com a ultrapassagem possível entre ônibus tornando possível serviços Expressos com poucas paradas em estações, tendo inaugurado cerca de 120 quilômetros do sistema nos últimos 3 anos nos corredores Transoeste e Transcarioca, e pretende inaugurar 2 outros corredores até 2017: A Transolímpica (entre a Barra e Deodoro) e a Transbrasil (entre Deodoro e o Centro) e situações de lotação e da precariedade precoce da frota e da estrutura das vias são comuns hoje, devido a falta de manutenção, de projetos e de estudos preliminares de traçado e de demanda, além da retirada das linhas de ônibus antigas nas avenidas dos corredores. Todos esses são pontos negativos destacados pela população e bastante relatados pelas mídias, deixando evidente os pontos de tensão do recém-implantado sistema.

Em alguns casos, o sistema BRT é operado com trólebus, os ônibus movidos pela energia elétrica catenária da fiação, a exemplo dos trens, como o corredor metropolitano Jabaquara/São Mateus na Grande São Paulo e o sistema BRT de Quito, no Equador. E é normal terminais de BRT possuem bicicletários e conexão com ciclovias. Na Cidade do México existe um sistema de corredores de ônibus exclusivos para Trólebus, porém não integram a rede local de BRT-o Metrobus.

                                     


Cidades com sistemas BRT no Brasil:

São Paulo: Expresso Tiradentes













São Paulo, São Bernardo do Campo, Diadema e Santo André: Corredor Metropolitano













Rio de Janeiro: Transoeste, Transcarioca, Transolímpica (inauguração 2016) e Transbrasil (2017)




Curitiba: Rede Integrada de Transportes










Belo Horizonte: Sistema Move






Goiânia: Eixo Anhanguera









Brasília: Expresso DF
 


No Exterior:
Transantiago
TransMilenio


Metrobus, Cidade do Mexico










Em conjunto com o desenvolvimento dos BRTs, se expandiram por muitas das cidades as faixas exclusivas de ônibus pintadas nas ruas, aliadas a uma readequação dos pontos para permitir uma maior velocidade média dos coletivos, seja aumentando a distância entre si ou agrupando as linhas por pontos específicos. No Rio de Janeiro esse sistema ficou conhecido como BRS - Bus Rapid System.

Ponto BRS no Rio de Janeiro
Ônibus na faixa BRS no Rio de Janeiro
                                               





Algumas cidades do Brasil contam também com corredores exclusivos para ônibus, o que é a segregação parcial ou total da faixa exclusiva de ônibus com o resto do tráfego, mas a lógica de linhas e dos pontos tradicionais de ônibus permanece a mesma, pagando a tarifa dentro do coletivo.
Corredor de ônibus em São Paulo
Corredor de ônibus em Niterói
                                           
VLT
O Veículo Leve sobre Trilhos popularmente é associado como sendo a versão moderna dos bondes. Não deixa de ter razão, já que é reintroduzido um veículo de trilhos sobre as ruas da cidade, no mesmo ambiente que carros e pedestres, como era antigamente, permitindo uma maior flexibilidade no deslocamento pois hoje eles podem trafegar pelo subterrâneo ou por áreas desabitadas, usando leitos de ferrovias abandonadas, por exemplo (como foi com o finado VLT de Campinas), ao mesmo tempo que permeiam dentro de áreas bem densas. O embarque é feito em estações específicas, abertas ou fechadas. A expressão em inglês para eles é "Light Rail", trem "light", pequeno, suave, e em espanhol (ao menos na Espanha) se diz Metro Ligero, e observando algumas sistemas pelo mundo, como em Madrid e Denver, se percebe como eles se comportam de diferentes maneiras dentro das cidades.
VLT de Valência, Espanha

VLT em Denver, EUA


                               









Algumas cidades que mantiveram o sistema de bondes antigos funcionando até os dias de hoje estão buscando evoluí-los para sistemas VLT, incorporando novos modelos de frota, estações e integrando as linhas existentes aos demais modais de transporte existentes como metrô e ônibus, como é o caso de Roma e Milão, por exemplo.
 
Bonde antigo em Roma
Bonde moderno - VLT- em Roma
Bonde novo -VLT- em Milão
                         
          
Bonde antigo em Milão

                                                    
O metro do Porto, em Portugal, é ainda mais flexível pois em trechos ele se comporta como bonde urbano, misturado ao tráfego das ruas, no trecho do Centro ele se comporta como um típico sistema de metrô, com estações subterrâneas, e em trechos mais afastados entre as cidades próximas ele mais se assemelha a um trem, atravessando campos de plantações.
Metro do Porto na estação Trindade, subterrânea



Metro do Porto em rua da cidade de Matosinhos
                         

Na Europa o VLT se desenvolveu em especial em cidades médias e nas periferias das metrópoles como um modal alimentador do transporte de massa baseado em metrô e trens metropolitanos e regionais, e há mais de 100 redes em funcionamento pelos países do Velho Continente.

Já no Brasil a moda foi colocar o termo VLT para definir uma reformulação dos trens de superfície em pequenas extensões. Se em São Paulo ou no Rio de Janeiro onde a frase favorita dos governantes em tempos de eleição é "Vamos transformar o trem em metrô de superfície", em cidades como Recife, João Pessoa, Natal, Salvador, Maceió, dentre outras, a frase muda para "Estamos transformando o trem em VLT", onde o que mudou foi uma troca das antigas composições dos anos 50 da Companhia Brasileira de Trens Urbanos para razoáveis composições VLTs a diesel, mas cuja operação apesar de barata é precária pois os horários continuam ruins; e a estrutura das estações e das vias, ultrapassada.

No Ceará houve duas iniciativas interessantes: o Metro do Cariri, que liga as cidades de Juazeiro do Norte e Crato; e o metro de Sobral, ambos gerenciados pela Metrofor (empresa pública estadual dos transportes metroferroviários) movidos a diesel, e além de usarem leitos de ferrovias já existentes, expandiram a rede de vias férreas pelas ruas dos centros dessas cidades, como no estilo europeu.

Em Fortaleza está sendo construída uma linha de VLT seguindo esse mesmo perfil na Zona Sul da cidade, conectando-se com a linha de metrô existente (também operada pela Metrofor) e com futuras outras, que ainda estão em fase de projeto.

No Rio de Janeiro, em 2016, foi inaugurada a primeira linha de VLT, na área do Centro e da Zona Portuária, ligando a Rodoviária ao Aeroporto Santos Dumont. O projeto dele integrou a grande operação urbana Porto Maravilha, e a iniciativa desse modal de transporte previa a resstruturação de vias do Centro e da região do porto, focando em formas de mobilidade não-motorizadas. Junto ao seu trajeto, parte da Avenida Rio Branco foi transformada para circulação de pedestres e de ciclistas, e foi contemplada a total revitalização da Praça Mauá e da Avenida Rodrigues Alves.

Em 2017 foi inaugurada a Linha 2 de VLT entre a Rodoviária e a Praça XV, formando uma rede do modal que abrange praticamente todos os pontos de interesse do Centro, acessando também os terminais dos demais modais de transporte. No entanto, com relação ao transporte público, a integração tarifária ainda é um desafio existente, sendo possível apenas com a rede de ônibus municipal da cidade.



Em São Paulo, o VLT da Baixada Santista foi inaugurado também em 2016, ligando os municípios de Santos e São Vicente, usando parte da via férrea desativada e através de avenidas reestruturadas, atendendo parte da orla de Santos, o Centro de São Vicente, e com previsão de alcançar o Porto de Santos até 2020.

O VLT também foi alvo de polêmica em diversas ocasiões, como em Campinas, Macaé, Brasília e Cuiabá, onde a falta de estudos e de projetos de viabilidade econômica adequados junto com suspeitas de corrupção dos responsáveis pelas obras causou o encerramento da operação ou da construção desses sistemas.


Monotrilho
O monotrilho é um pequeno trem completamente erguido sobre uma via elevada, larga o bastante para passar apenas uma composição por via, ocupando menos espaço físico que trens de superfície e alterando menos o espaço, podendo ser desenvolvido em locais de pouso uso no espaço urbano como o canteiro central de uma avenida, por exemplo.

Ele surgiu nos anos 80 como uma alternativa aos custos e impactos de uma obra de expansão do metrô (embora com menos capacidade de passageiros) e foi adotado em algumas metrópoles asiáticas como transporte de massa (são famosas as redes de Bangkok e Cingapura). Nos EUA, por sua baixa capacidade mas grande versatilidade, os monotrilhos são usados muitas vezes como conectores de grandes locais de fluxo de pessoas dentro de uma área reduzida, como nos centros urbanos, grandes aeroportos internacionais e no complexo do Disney World.
Monotrilho do Porto de Veneza, apenas para transporte local
Monotrilho de Odaiba (Toquio), para transporte público
                   




Projetos de monotrilho no Brasil não são novidade. A primeira iniciativa foi em Poços de Caldas em 1981, cujo projeto buscava colocar um novo conceito na mobilidade de cidades médias. No entanto, a falta de experiência e os sucessivos reajustes de gastos fizeram com que a viagem inaugural fosse feita apenas no ano 2000, e foi um fiasco, com parte do trilho elevado despencando. Desde então, o monotrilho caldense está parado e vinhas de plantas cobrem boa parte das estruturas.


Durante os anos 90 surgiram outras iniciativas de criar redes desse sistema nas metrópoles sobre as grandes avenidas congestionadas, mas nenhum acabou se concretizando. Em São Paulo reaproveitaram a estrutura dos pilares elevados sobre a Avenida do Estado para construir o BRT Expresso Tiradentes.

Foi somente há pouco tempo que o monotrilho voltou a fazer parte das opções de transporte para a população, havendo hoje dois sistemas de monotrilho em funcionamento nas redes de transporte público do país. Em Porto Alegre, o Aeromóvel faz uma função a exemplo dos sistemas americanos, conectando o terminal principal do Aeroporto Salgado Filho a Estação Aeroporto de Metrô, localizada a 700 metros de distância, do outro lado de uma avenida movimentada.
Aeromovel de Porto Alegre
Em São Paulo o governo do estado realiza obras de duas linhas de monotrilho voltadas para o transporte público de passageiros, integradas completamente à rede do Metrô e da CPTM: As linhas 15 e 17. O primeiro trecho foi aberto em setembro de 2014 e hoje, a linha encontra-se com seis estações e oito quilômetros operacionais, no total serão 20 quilômetros atravessando a Zona Leste ligando a Vila Prudente ao bairro do Iguatemi, seguindo as Avenidas Rageb Chofi, Sapopemba e Professor Anhaia Melo, e fazendo integração com a Linha 2 do Metrô na Vila Prudente e com o Corredor BRT Metropolitano do ABD no Terminal São Mateus.

Já a Linha 17 encontra-se em construção e irá atender a Zona Sul, passando pelo Aeroporto de Congonhas, Avenida Jornalista Roberto Marinho até a alcançar a Marginal Pinheiros na altura do Shopping Morumbi, integrando no percurso com a linha 5-Lilás do metrô e a linha 9-Esmeralda da CPTM, além de corredores de ônibus transversais como nas Avenidas Santo Amaro, Ibirapuera e Berrini.



Espero que essa postagem tenha esclarecido ao menos algumas das dúvidas que amigos e família já compartilharam comigo muitas vezes. Até a próxima!














                                                                 












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