segunda-feira, 15 de junho de 2015

Viagem ao Uruguai 2015: Colonia de muitas culturas

O pacato, bonito e bem-conservado centro histórico de Colônia do Sacramento - declarado patrimônio mundial pela UNESCO em 1995-  já foi um dos mais importantes pontos estratégicos durante a era da colonização na América do Sul. Localizada às margens do Rio da Prata, no início de sua foz imensa, era um ponto importante nas rotas dos espanhóis que levavam as riquezas coletadas desde rio acima para a Europa. A mais importante delas era a prata coletada nos altiplanos bolivianos, na cidade de Potosi (está na minha lista de destinos a se conhecer), e que deu nome ao rio que banha Colonia. Nas minhas viagens a Espanha vi o uso abundante da prata e de outros metais preciosos coletados nessa região e em outros pontos dos vice-reinados espanhóis em enormes catedrais e nos palácios da Coroa espanhola, transmite um poder e um fascínio tremendo.
Rio de La Plata














Tendo em vista a importância dessa rota na exploração de riquezas e no controle do território, foram os portugueses os fundadores de Colonia, em expedições chefiadas pela Capitania do Rio de Janeiro em 1680. Foi a primeira cidade fundada por europeus no que é hoje o território uruguaio, e sua proximidade com Buenos Aires, que era naquele momento a principal cidade espanhola do rio da prata, causou enorme receio entre os espanhóis, e as reações vieram logo em seguida. Até 1750 a cidade sofreu com ao menos duas ocupações espanholas mas conseguiu prosperar sob mãos portuguesas como um ponto de comércio e de contrabando de riquezas principalmente entre Portugal e Inglaterra. Porém nesse ano foi estabelecido entre as duas nações ibéricas o tratado de Madrid, em que o controle formal da cidade foi entregue às mãos espanholas, e em troca Portugal recebia o território das sete missões jesuítas orientais, o que hoje é o oeste do Rio Grande do Sul, onde há as ruínas de São Miguel das Missões. Isso não impediu ainda outros confrontos entre espanhóis, portugueses e ingleses, sendo o mais significativo deles a ocupação pelas tropas de Dom João VI quando a Coroa portuguesa estava sediada no Rio de Janeiro, e depois em 1822 foi para o domínio brasileiro. Ou seja, nessa disputa toda Colonia, assim como o Uruguai, já formaram parte do Brasil, até 1828, com a independência uruguaia.













Hoje já não desce mais prata pelo rio, mas o porto de Colonia continua bastante movimentado. É dali que saem a maioria dos ferryboats entre o Uruguai e a Argentina,  transportando muitos passageiros e cargas. Essa travessia frequente e relativamente curta - 40 km de distância superados entre 1 e 3 horas dependendo da embarcação- fez com que muitos argentinos adquirissem propriedades e negócios na cidade, e também com que haja um movimento de turistas intenso entre os dois países. Aliado a rica história por trás da cidade, faz com que Colonia seja um ponto chave não só dentro do Uruguai mas como de todo o Mercosul.













Depois desse feedback todo, vamos ao relato do meu bate-e-volta desde Montevideu até Colônia.


Dia 16/02/2015 - 9:00
Saindo do Hostel Montevideo Up as 8:15 da manhã, nem tomei café direito devido a pressa, uma rápida viagem de 10 minutos de ônibus pela Boulevard General Artigas me deixou em frente ao terminal Tres Cruces. São duas as empresas que fazem o trajeto para Colonia: A COT e a TURIL. Peguei o saiu as 9:00 da COT, mas preciso aqui fazer uma observação: No caso da COT a ida saíram dois ônibus para Colonia as nove, um directo e um parador. Como eu não sabia disso a atendente me colocou no parador. Peçam e insistam sempre no direto, porque são 40 minutos a mais de viagem no parador atendendo as cidadezinhas as margens da autopista! O preço de cada perna foi de 224 pesos (448 pesos ida e volta no total, cerca de 56 reais, achei bem barato para os 360 km percorridos no total da ida e da volta.
Ônibus da Turil na Rodoviária de Colônia rumo a Montevideu














O lado bom de parar nas cidadezinhas rurais é que você pode admirar os habitantes locais, muitos tinham aquele traje de gaúcho típico com chapéu, camisa xadrez e botas e com a cuia sempre ao alcance pro mate, muita gente cavalgando pelas ruelas, um comércio ralo, e muitos campos de cultivo entre uma cidade e outra. O itinerário é quase uma linha reta e o relevo, quase sempre plano. Quase chegando a Colonia, a autopista se estreita em uma estrada de mão dupla ladeada por palmeiras até a entrada da cidade, cerca de uns 10 quilômetros, muito bonito. Após atravessar uns bairros mais novos, o ônibus adentrou na Rodoviária de Colonia as 12:20, parecida esteticamente com a de Punta, a base de tijolos e equipada com café, guarda-volumes e banca de jornais. Como o ônibus que eu vim estava cheio de turistas, reservei logo a volta para MVD no guichê da COT ali para as 17:00, em um direto.
O Porto de Colonia fica logo ao lado da Rodoviária, uma grande construção moderna. Aos fundos estava atracando o barco grande da Buquebus, a principal companhia que faz a travessia, e os carros já estavam formando fila na entrada do porto para embarcar rumo a Buenos Aires.
Porto de Colonia














Segui adiante, passei por uma pracinha em frente a rodoviária onde há um ponto de tuk-tuks e mototaxis para levar aqueles que não querem encarar as 5, 6 quadras de caminhada até o Centro Histórico. Preferi seguir a pé pela Calle Manuel Lobo, homenageando o português fundador da cidade, com belas construções aparentemente da primeira metade do século XX e ladeada por árvores, o pouco movimento de carros passando junto com o sopro do vento dos galhos e as folhas no chão transmite -mais uma vez nessa viagem ao Uruguai- uma tranquilidade muito grande. Numa das esquinas estava estacionado um calhambeque todo rodeado de folhas, pareceu quase uma viagem no tempo. Essa região entre a Rodoviária e o Centro Histórico tem muitas opções de hospedagem, principalmente hostels.



















A Manuel Lobo termina na principal entrada da antiga cidade: O portão da antiga muralha portuguesa, ainda imponente, recebendo os visitantes há mais de 3 séculos. Após adentrar segui acompanhando a muralha por dentro até ela terminar em um pequeno jardim escondido às margens do rio. Segui pela orla do rio e entrei em um dos cartões-postais da cidade: A Calle de Los Suspiros, calçada em pé-de-moleque e casas de pedra ordenadas com pequenos azulejos em alguns pontos, praticamente intacta desde os tempos da fundação portuguesa, hoje repleta de lojas de artesanato.
Calle de Los Suspiros














No final, a rua termina na Plaza Mayor, ampla e repleta de restaurantes ao ar aberto. Nela estão três importantes atrações da cidade: O Museu Português, o Museu Municipal e o Farol. Achei os dois primeiros bem parecidos, focando seus acervos na história e no modo da vida da cidade durante toda aquela alternância de poder entre português e espanhóis. Já o Farol, localizado sobre as ruínas portuguesas da antiga igreja de São Francisco, tem uma vista interessante de toda a cidade.
A semelhança de Montevideu e Punta, Colonia também se localiza em uma ponta que se destaca sobre o rio, e sua praça principal, a Mayor, se localiza bem no meio desta (assim como a Plaza Independência de MVD e a Pza.Artigas de Punta) , de tal modo que fica fácil se orientar pela cidade a partir dela. Me pareceu que ao sul da Praça se concentram as construções portuguesas, e a norte as espanholas.
Plaza Mayor


A Catedral de Colonia se localiza próxima à Praça, e ela se destaca por ter sido reconstruída por completo pelos espanhóis após 1750, e da antiga catedral portuguesa restaram apenas a entrada e uma das pilastras. Em frente a ela há dois calhambeques convertidos em estufas para o cultivo de plantas ornamentais. Ao lado da Catedral há outra praça importante, a da antiga residência do governador português, da qual hoje só restam as ruínas da fundação.
Catdral de Colonia com a entrada portuguesa


Um dos principais marcos de Colonia são as lamparinas das ruas, espalhadas por quase todas as casas, que em conjunto com o calçamento e as construções antigas formam um dos cartões-postais da cidade. Outro marco são, como dito acima, são os carros antigos espalhados pelas quadras aqui e ali.
Rumando mais para o norte, na esquina com a Avenida General Artigas, chega-se a uma área com traços mais espanhóis, com as casas de dois pisos completamente brancas e com as pequenas sacadas com gradis. É ali que está o museu espanhol (na Calle España) e a marina da cidade.
Construções de estilo espanhol do Centro Histórico














 Ao redor da Avenida General Artigas existem muitos restaurantes e lojinhas de souvenirs, mas quanto mais se seguir por ela mais se afasta do Centro Histórico. As ruas transversais também reúnem opções de serviços e restaurantes a um preço mais em conta, onde acabei almoçando um belo de um bife com molho de pimenta.
Carrinhos elétricos também são uma opção de deslocamento 














Continuei o dia passeando tranquilamente por cada trecho do Centro Histórico, aproveitando o sol e a brisa agradável, e minha última parada foi para um sorvete de doce de leite em frente a muralha. As 17:00 já estava a bordo do ônibus direto para MVD, mais confortável que o parador, com WiFi gratis a bordo. Depois de 2 horas e 40 minutos de viagem cheguei ao Shopping-Terminal Tres Cruces, acabei comendo duas fatias de pizza na praça de alimentação e voltei para o hostel.

A impressão final que tive de Colonia foi a de uma cidade que conseguiu preservar os detalhes de sua rica histórica de uma forma impressionante, pois hoje a cidade está situada bem entre as capitais porteñas, mas o modo de vida pacato foi pouco alterado e a cidade em si hoje não é muito extensa. Esse investimento na preservação do Centro Histórico é o responsável por continuar a movimentar o fluxo de turistas de diversos tipos, seja o dos locais argentinos e uruguaios, seja os que vem de mais longe para admirar a arquitetura de duas colonizações -portuguesa e espanhola- convivendo dentro do mesmo espaço.
Aqui vai o link para o aplicativo que eu criei com os mapas que eu fiz dos lugares visitados no Uruguai. O mapa 3 mostra o meu roteiro realizado em Colonia:

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