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Rio de La Plata |
Tendo em vista a importância dessa rota na exploração de riquezas e no controle do território, foram os portugueses os fundadores de Colonia, em expedições chefiadas pela Capitania do Rio de Janeiro em 1680. Foi a primeira cidade fundada por europeus no que é hoje o território uruguaio, e sua proximidade com Buenos Aires, que era naquele momento a principal cidade espanhola do rio da prata, causou enorme receio entre os espanhóis, e as reações vieram logo em seguida. Até 1750 a cidade sofreu com ao menos duas ocupações espanholas mas conseguiu prosperar sob mãos portuguesas como um ponto de comércio e de contrabando de riquezas principalmente entre Portugal e Inglaterra. Porém nesse ano foi estabelecido entre as duas nações ibéricas o tratado de Madrid, em que o controle formal da cidade foi entregue às mãos espanholas, e em troca Portugal recebia o território das sete missões jesuítas orientais, o que hoje é o oeste do Rio Grande do Sul, onde há as ruínas de São Miguel das Missões. Isso não impediu ainda outros confrontos entre espanhóis, portugueses e ingleses, sendo o mais significativo deles a ocupação pelas tropas de Dom João VI quando a Coroa portuguesa estava sediada no Rio de Janeiro, e depois em 1822 foi para o domínio brasileiro. Ou seja, nessa disputa toda Colonia, assim como o Uruguai, já formaram parte do Brasil, até 1828, com a independência uruguaia.
Hoje já não desce mais prata pelo rio, mas o porto de Colonia continua bastante movimentado. É dali que saem a maioria dos ferryboats entre o Uruguai e a Argentina, transportando muitos passageiros e cargas. Essa travessia frequente e relativamente curta - 40 km de distância superados entre 1 e 3 horas dependendo da embarcação- fez com que muitos argentinos adquirissem propriedades e negócios na cidade, e também com que haja um movimento de turistas intenso entre os dois países. Aliado a rica história por trás da cidade, faz com que Colonia seja um ponto chave não só dentro do Uruguai mas como de todo o Mercosul.
Depois desse feedback todo, vamos ao relato do meu bate-e-volta desde Montevideu até Colônia.
Dia 16/02/2015 - 9:00
Saindo do Hostel Montevideo Up as 8:15 da manhã, nem tomei café direito devido a pressa, uma rápida viagem de 10 minutos de ônibus pela Boulevard General Artigas me deixou em frente ao terminal Tres Cruces. São duas as empresas que fazem o trajeto para Colonia: A COT e a TURIL. Peguei o saiu as 9:00 da COT, mas preciso aqui fazer uma observação: No caso da COT a ida saíram dois ônibus para Colonia as nove, um directo e um parador. Como eu não sabia disso a atendente me colocou no parador. Peçam e insistam sempre no direto, porque são 40 minutos a mais de viagem no parador atendendo as cidadezinhas as margens da autopista! O preço de cada perna foi de 224 pesos (448 pesos ida e volta no total, cerca de 56 reais, achei bem barato para os 360 km percorridos no total da ida e da volta.
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Ônibus da Turil na Rodoviária de Colônia rumo a Montevideu |
O lado bom de parar nas cidadezinhas rurais é que você pode admirar os habitantes locais, muitos tinham aquele traje de gaúcho típico com chapéu, camisa xadrez e botas e com a cuia sempre ao alcance pro mate, muita gente cavalgando pelas ruelas, um comércio ralo, e muitos campos de cultivo entre uma cidade e outra. O itinerário é quase uma linha reta e o relevo, quase sempre plano. Quase chegando a Colonia, a autopista se estreita em uma estrada de mão dupla ladeada por palmeiras até a entrada da cidade, cerca de uns 10 quilômetros, muito bonito. Após atravessar uns bairros mais novos, o ônibus adentrou na Rodoviária de Colonia as 12:20, parecida esteticamente com a de Punta, a base de tijolos e equipada com café, guarda-volumes e banca de jornais. Como o ônibus que eu vim estava cheio de turistas, reservei logo a volta para MVD no guichê da COT ali para as 17:00, em um direto.
O Porto de Colonia fica logo ao lado da Rodoviária, uma grande construção moderna. Aos fundos estava atracando o barco grande da Buquebus, a principal companhia que faz a travessia, e os carros já estavam formando fila na entrada do porto para embarcar rumo a Buenos Aires.
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Porto de Colonia |
Segui adiante, passei por uma pracinha em frente a rodoviária onde há um ponto de tuk-tuks e mototaxis para levar aqueles que não querem encarar as 5, 6 quadras de caminhada até o Centro Histórico. Preferi seguir a pé pela Calle Manuel Lobo, homenageando o português fundador da cidade, com belas construções aparentemente da primeira metade do século XX e ladeada por árvores, o pouco movimento de carros passando junto com o sopro do vento dos galhos e as folhas no chão transmite -mais uma vez nessa viagem ao Uruguai- uma tranquilidade muito grande. Numa das esquinas estava estacionado um calhambeque todo rodeado de folhas, pareceu quase uma viagem no tempo. Essa região entre a Rodoviária e o Centro Histórico tem muitas opções de hospedagem, principalmente hostels.
A Manuel Lobo termina na principal entrada da antiga cidade: O portão da antiga muralha portuguesa, ainda imponente, recebendo os visitantes há mais de 3 séculos. Após adentrar segui acompanhando a muralha por dentro até ela terminar em um pequeno jardim escondido às margens do rio. Segui pela orla do rio e entrei em um dos cartões-postais da cidade: A Calle de Los Suspiros, calçada em pé-de-moleque e casas de pedra ordenadas com pequenos azulejos em alguns pontos, praticamente intacta desde os tempos da fundação portuguesa, hoje repleta de lojas de artesanato.
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Calle de Los Suspiros |
No final, a rua termina na Plaza Mayor, ampla e repleta de restaurantes ao ar aberto. Nela estão três importantes atrações da cidade: O Museu Português, o Museu Municipal e o Farol. Achei os dois primeiros bem parecidos, focando seus acervos na história e no modo da vida da cidade durante toda aquela alternância de poder entre português e espanhóis. Já o Farol, localizado sobre as ruínas portuguesas da antiga igreja de São Francisco, tem uma vista interessante de toda a cidade.
A semelhança de Montevideu e Punta, Colonia também se localiza em uma ponta que se destaca sobre o rio, e sua praça principal, a Mayor, se localiza bem no meio desta (assim como a Plaza Independência de MVD e a Pza.Artigas de Punta) , de tal modo que fica fácil se orientar pela cidade a partir dela. Me pareceu que ao sul da Praça se concentram as construções portuguesas, e a norte as espanholas.
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Plaza Mayor |
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Catdral de Colonia com a entrada portuguesa |
Rumando mais para o norte, na esquina com a Avenida General Artigas, chega-se a uma área com traços mais espanhóis, com as casas de dois pisos completamente brancas e com as pequenas sacadas com gradis. É ali que está o museu espanhol (na Calle España) e a marina da cidade.
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Construções de estilo espanhol do Centro Histórico |
Ao redor da Avenida General Artigas existem muitos restaurantes e lojinhas de souvenirs, mas quanto mais se seguir por ela mais se afasta do Centro Histórico. As ruas transversais também reúnem opções de serviços e restaurantes a um preço mais em conta, onde acabei almoçando um belo de um bife com molho de pimenta.
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Carrinhos elétricos também são uma opção de deslocamento |
Continuei o dia passeando tranquilamente por cada trecho do Centro Histórico, aproveitando o sol e a brisa agradável, e minha última parada foi para um sorvete de doce de leite em frente a muralha. As 17:00 já estava a bordo do ônibus direto para MVD, mais confortável que o parador, com WiFi gratis a bordo. Depois de 2 horas e 40 minutos de viagem cheguei ao Shopping-Terminal Tres Cruces, acabei comendo duas fatias de pizza na praça de alimentação e voltei para o hostel.
A impressão final que tive de Colonia foi a de uma cidade que conseguiu preservar os detalhes de sua rica histórica de uma forma impressionante, pois hoje a cidade está situada bem entre as capitais porteñas, mas o modo de vida pacato foi pouco alterado e a cidade em si hoje não é muito extensa. Esse investimento na preservação do Centro Histórico é o responsável por continuar a movimentar o fluxo de turistas de diversos tipos, seja o dos locais argentinos e uruguaios, seja os que vem de mais longe para admirar a arquitetura de duas colonizações -portuguesa e espanhola- convivendo dentro do mesmo espaço.
Aqui vai o link para o aplicativo que eu criei com os mapas que eu fiz dos lugares visitados no Uruguai. O mapa 3 mostra o meu roteiro realizado em Colonia:
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