domingo, 24 de dezembro de 2017

Viagem de ônibus do Peru ao Equador

A continuação da minha viagem, escolhi deixar Lima para seguir primeiramente rumo à Trujillo, a principal cidade do norte do Peru e com um patrimônio histórico bem variado. Em seguida continuei rumo à Guayaquil, a maior cidade do Equador.

Havia lido nos preparativos da viagem que a melhor maneira de atravessar essa fronteira era a bordo dos ônibus de linha regulares internacionais de longa distância, evitando a má fama de ter que desembarcar nas cidades fronteiriças. Portanto, ainda em Lima, tratei de verificar quais eram as empresas que faziam a rota até solo equatoriano.

Dentre as que eu pesquisei, estava a Expreso Ormeño, que eu havia utilizado para vir desde o Rio de Janeiro até Lima (leia o post aqui) e que servia tanto para ir para Guayaquil como para Quito, mas depois de mais de 6000 km e 100 horas tinha tido o bastante dessa empresa. A mais conceituada dentre as empresas era a Cruz del Sur, com boas recomendações dos viajantes nos fóruns e blogs de viagens.

O preço era um pouco mais caro do que as outras empresas (110 soles o trecho de 10 horas de viagem entre Lima e Trujillo e 155 soles o trecho de 20 horas de viagem entre Trujillo e Guayaquil, com o sol valendo praticamente o mesmo que o real). Mesmo assim, levando em conta que a distância final entre Lima e Guayaquil era de uns 1500 quilômetros (equivalente a uma viagem entre Rio e Salvador), achei um preço adequado e preferi gastar um pouco mais para suportar essa perna de viagem tão longa da melhor forma que desse.

Trecho Lima-Trujillo (12/01/2017):
O horário de partida em Lima era às 23:00, no terminal próprio da Cruz del Sur na Avenida Javier Prado, no bairro San Isidro. Foi tranquilo chegar lá usando o BRT Metropolitano, descendo na Estacion Javier Prado e depois caminhando cerca de 600 metros. É um terminal de tamanho moderado, com várias portas de embarque, uma lanchonete e uma banca de jornais, e que estava cheio de gente já que naquela hora da noite haviam várias saídas de ônibus.


Há no terminal uma área para o despacho de bagagem, tipo aeroporto, onde todos os passageiros que irão colocar malas no bagageiro devem passar. O fiscal confere a passagem e a mala e a guarda, etiquetando tanto a mala e a passagem. Confira se os dados batem com a informação do seu ônibus de saída.


O embarque começava em geral uns 15 minutos antes da hora de partida, onde os passageiros formavam fila. Junto à porta de embarque ficam os funcionários da empresa que checam o bilhete e os documentos pessoais de cada passageiro. Em seguida, haviam fiscais com detectores de metais portáteis que fiscalizaram a bagagem de mão, e na entrada do ônibus havia o comissário de bordo que verificava qual era o seu assento.

O ônibus utilizado era de dois andares, eu peguei o assento 25, na janela do lado esquerdo. Haviam a disposição wi-fi, tela de mídia individual por viajante com entrada usb e refeição a bordo. O banco era confortável, mas não reclinava muito.


O ônibus saiu de Lima pontualmente, estando razoavelmente cheio. Logo após, o comissário passou entregando o lanche (sanduíche de presunto e um suco ou refrigerante) e falando no microfone as informações gerais da viagem. Só sei que logo cai no sono.

Acordei por volta das 6 e meia da manhã, com o ônibus adentrando a cidade de Chimbote, no litoral, onde foi feita uma parada para desembarque. Também foi servido o café com um croissaint. Experimentei a tela multimídia, que tinha uma variedade boa de filmes e um canal que acompanhava a posição do ônibus no mapa através do GPS. Muito legal!


A paisagem da janela do ônibus acompanhava o litoral e era predominantemente desértica, quebrada por alguns rios com margens bem verdes. As pequenas cidades do caminho eram bem rústicas, basicamente vilas de pescadores.




O ônibus adentrou Trujillo as 9 da manhã em ponto, indo fazer sua parada no terminal particular da Cruz del Sur localizado na entrada do Centro Histórico, a poucas quadras do hostel que fiquei e também das atrações daquela área da cidade. A bagagem é recolhida na plataforma mesmo.

Trecho Trujillo-Guayaquil (15/01/2017):

O terminal da empresa Cruz del Sur em Trujillo tem uma estrutura semelhante porém menor do que o de Lima, com menos portas de embarque. O ônibus para Guayaquil vinha em trânsito desde Lima, com chegada e embarque previsto às 23:45 e seria o último do dia a atender o terminal. Cheguei pelas 22:00, despachei o mochilão e esperei na sala de embarque vendo a programação fornecida pelas TVs do local.

O ônibus iria cheio, haviam também muitos turistas estrangeiros. Acabei conversando com um par de irmãos italianos que estavam no meu hostel e que iriam naquele ônibus até Mancora, balneário famoso no litoral norte do Peru.

A chegada do ônibus atrasou um pouco, cerca de 20 minutos. Primeiro desembarcaram os passageiros que vinham desde Lima e iam ficar em Trujillo, depois os passageiros da sala de embarque foram chamados para entrarem no ônibus de dois andares, idêntico ao que eu havia usado para vir de Lima. Dessa vez eu fiquei na poltrona 01, na parte de cima do motorista, como foi na ida entre o Brasil e o Peru, tendo a minha disposição uma bela vista frontal do caminho. O ônibus partiu de Trujillo lotado às 00:30, e logo peguei no sono.

Acordei oito horas mais tarde, com o ônibus atravessando a cidade de Piura, já uns 500 quilômetros mais ao norte, ouvindo aquela sinfonia às avessas do trânsito das cidades peruanas. Logo depois o ônibus passou por Sullana, outra grande cidade da região,  e no meio do caminho continuava aquele panorama desértico. O comissário serviu uma xícara de café e um sanduíche, além de água.

A estrada após passar em Sullana ficou bem mais vazia, atravessando um campo de usinas eólicas até chegar próximo ao mar novamente na cidade pequena de Órganos, onde a névoa úmida deu lugar a um belo dia de sol.

A rodovia foi serpeanteando de praia em praia, passando por uma sequência de pequenas cidades de praia. Mancora é a maior cidade dessa região, sendo um balneário muito procurado pelos peruanos na época de férias, e onde o ônibus fez uma parada para desembarque de passageiros.
Atravessando Mancora

Bastante esparramada entre a praia e a estrada, era frenético o movimento de mototáxis (tuk-tuks) no caminho. A partir de Mancora a rodovia seguia quase sempre junto a praia, e dava para tirar boas fotos.

Houve uma parada para fiscalização alfandegária peruana uma hora após a parada em Mancora, onde todos os passageiros descem para tomar um lanche enquanto o ônibus é verificado. Após isso, foram mais uma hora de viagem acompanhando as belas paisagens de praia (lembra o litoral do Ceará, com praias longas e arenosas com alguns coqueiros aparecendo) até a Playa de Zorritos, povoado de onde a cidade se afasta da praia até entrar em Tumbes, a última cidade antes da fronteira.




Lá, o ônibus entrou na garagem acanhada da Cruz del Sur. Lá, enquanto o ônibus era abastecido e limpo por fora, foi servido o almoço para cada um dos passageiros em uma bandeja contendo um marmitex de carne com arroz, acompanhado de pudim de sobremesa e um copo de refrigerante ou suco.
Almoço servido a bordo
Ponte para a travessia do Rio Tumbes


Uma hora depois, o ônibus partiu rumo à fronteira, e a paisagem desértica já tinha dado lugar a uma vegetação mais rasteira, com alguns riachos atravessando sob a estrada. Quando a rodovia ficou mais ampla e as placas indicando "Equador" apareceram, o comissário falou pelo sistema de áudio os procedimentos para a travessia da fronteira. Todos os passageiros deveriam sair no posto de fiscalização portando os documentos pessoais para a entrada no Equador, deixando toda a bagagem dentro do ônibus para ser analisada pela polícia de fronteira do Equador.



O posto de fronteira era integrado, já no lado equatoriano da fronteira, com as polícias de imigração do Peru e do Equador funcionando na mesma sala. Era um espaço amplo mas bastante quente e que estava cheia pois haviam chegado outros dois ônibus rumo ao Equador, além do nosso.

É preciso entrar em duas filas dentro da sala. A primeira é para registrar a saída do Peru, que foi feita rapidamente, entregando ao fiscal o passaporte e aquele formulário de imigração preenchido na entrada ao país (se perder esse formulário dá uma bela dor de cabeça na hora de sair do país) para então ser carimbada a saída.

Em seguida é necessário entrar na outra fila para registrar a entrada no Equador, que no caso não foi necessário preencher nenhum formulário. Foi uma entrada tranquila, onde a agente migratória fez perguntas básicas: se era a minha primeira viagem ao Equador, qual era o motivo da viagem, quantos dias ficaria e qual a minha ocupação no Brasil. Não me pediu passagem de volta nem a carteira de vacinação. Ao final, disse "bienvenido al Ecuador", carimbando o passaporte com permanência de até 90 dias.

Feita a imigração, há que esperar que todos os passageiros do ônibus tenham feito a imigração e que o ônibus tenha sido liberado. Há uma lanchonete no complexo fronteiriço que aceita soles e dólares (que por sinal é a moeda usada no Equador). Todo esse processo fronteiriço levou duas horas para ser concluído até o ônibus ganhar a estrada de novo.   

A primeira impressão do Equador que eu tive ao analisar os pequenos povoados e vilas logo após a fronteira foram de uma calma e ordem maiores que no Peru, sem o trânsito barulhento dos mototaxis e motos e com uma melhor estrutura das ruas.

A estrada melhorou bastante, ganhando forma de uma moderna autoestrada por uns 50 quilômetros, sendo cercada por longas plantações de bananeiras. O deserto ficou definitivamente para trás, e começavam a aparecer ao longe as serras da Cordilheira dos Andes, cobertas por floresta tropical.
Autopista Equatoriana

A rodovia expressa ainda não estava concluída, e o trecho final com o sol se pondo foi feito na estrada antiga, atravessando os pequenos vilarejos por mais umas duas horas.
Estrada antiga

Já de noite foi quando o ônibus voltou a rodar por uma via expressa para chegar na área urbana de Guayaquil, onde o ônibus fez sua parada derradeira no modernoso terminal terrestre às 20:00. Jantei no McDonald's do terminal mesmo e acabei pegando um táxi para o hotel da minha reserva no Centro da cidade, a uns 7 quilômetros. A corrida foi barata, 4 dólares.

A próxima postagem entrarei em detalhes maiores da minha estadia na bela cidade peruana de Trujillo, que conta com um centro histórico colorido e elegante e com dois sítios arqueológicos impressionantes: As pirâmides do povo moche (conhecidas como Huacas) e a cidadela antiga do povo chimu, Chan-Chan.






7 comentários:

  1. Estou querendo incluir Equador no meu mochilao Obrigada pela ajuda, achei que só tinha aéreo do peru ao equador!

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    1. De nada! Todos os dias tem saídas por essa empresa de Lima até Guayaquil, com um dia pelo menos continuando até Quito. A empresa Ormeño (que tb faz a rota Peru-Brasil) também tem saídas a Guayaquil e Quito.
      Das cidades de Chiclayo e Piura também há outras linhas de ônibus diretos para o Equador. Boa viagem!

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  2. Boa noite, estou sem passaporte, tem problemas ir só com RG e cnh, vc não foi a Que? Parabéns pela viagem.

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    1. Boa noite! Se não tiver passaporte precisa mostrar o RG para entrar no Equador, que não pode ser muito antigo. Só levar CNH não basta. Obrigado!

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  3. Oi Nuno, bom dia!
    Queria saber se as refeições já estão incluidas no valor da passagem?
    E em relação ao clima, se Maio é uma boa época de viajar para Peru e Equador?

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    1. Oi Deise!
      As refeições já estão incluídas na passagem sim, na empresa que eu viajei, no caso a Cruz del Sur, mas isso pode variar em outras empresas. Algumas ao invés de servirem comida a bordo podem optar por fazerem paradas pelo caminho, como no Brasil, onde você paga pelo que consome.

      O Peru e o Equador tem muitos climas dependendo da região (litoral, cordilheira, amazônia), mas o Peru tem um clima mais seco no meio do ano enquanto que o Equador fica sempre úmido o ano todo. O litoral do Peru tem um clima mais frio que o do Equador, já as montanhas são frias em ambos os lados.
      Acredito que Maio seja uma boa época para visitar ambos os países sim, a época mais complicada é durante o verão quando ocorrem fortes chuvas nas montanhas principalmente no Peru.

      Obrigado!

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  4. Ele faz a linha direta de Lima até Guayaquil??

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