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Olá a todos! Hoje nesse post do blog venho contar a minha experiência e as minhas observações feitas durante o "Dia Sin Carro" (Dia Sem Carro) realizado anualmente na capital da Colômbia, Bogotá, no dia 2 de Fevereiro desse ano de 2017, mostrando algumas fotos que eu tirei nesse dia lá na cidade, e depois agregando informações que pesquisei ao voltar para o Brasil acerca dos resultados desse dia.
Desde o ano 2000, durante a gestão do alcalde (prefeito) Henrique Peñalosa, está em vigor em Bogotá o decreto 1098/2000, que regulamenta a criação do "Dia Sin Carro" em todas as primeiras quintas-feiras de Fevereiro, onde a circulação de veículos particulares (incluindo motocicletas) fica proibida na cidade entre as 6:30 e as 19:30 (hoje ampliado para o período entre as 6:00 e as 20:30). Veículos de serviço, de emergência e de transporte público (ônibus do Transmilenio, SITP e táxis) tem livre circulação.
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Fila de táxis |
A proposta desse dia é propor aos cidadãos alternativas de mobilidade menos poluentes e mais sustentáveis, com ênfase no transporte não motorizado, principalmente por bicicleta.
Segundo um estudo divulgado em 2015 pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Bogotá possui uma rede de 392 quilômetros de bicicleta, e registra uma média de 611 mil viagens diárias sobre as magrelas, o que representa 5% do total de viagens feitas na capital colombiana. Segundo alguns dados divulgados pela Alcadía (Prefeitura) de Bogotá, nesse dia 2 de Fevereiro foram feitas cerca de 2 milhões de viagens em bicicletas. Vale lembrar que além da rede de ciclovias da cidade ser a segunda maior da América Latina, durante o Dia Sin Carro grande parte das principais avenidas e vias expressas da cidade são transformadas em ciclorutas para uso exclusivo das magrelas.
Mapa com a rede cicloviária em verde. Fonte: mapas.bogota.gov.co |
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Ciclovia da Avenida El Dorado |
Já para o transporte a pé, destaco mais adiante as obras e ações nas ruas mais movimentadas do Centro de Bogotá para dedicação exclusiva aos pedestres.
Vale lembrar que o clima de Bogotá é permanentemente frio por causa de sua altitude de 2600 metros, com as temperaturas máximas rodando os 20 graus ao sol e a noite caindo para uns 8 graus. O principal obstáculo climático da cidade para pedalar ou caminhar são as chuvas, que constantemente caem sobre a cidade, mas que não deram as caras nesse dia específico.
Transporte Público:
O sistema do Transmilênio é dividido em uma série de corredores troncais que irradiam do Centro de Bogotá para os bairros mais distantes, e nesse Dia Sem Carro de 2017, segundo o jornal El Tiempo, os 2292 ônibus do sistema BRT Transmilenio registraram uma marca de 2.308.272 passageiros transportados, contra uma média de 2.100.000 por dia, um aumento de cerca de 10%. Já os cerca de 6000 ônibus regulares do SITP -Sistema Integrado de Transporte Urbano- transportaram 1.880.338 passageiros, aproximadamente 20% a mais do que a média diária habitual. Acredito que a isso se deve às limitações na capacidade e no alcance dentro da cidade da rede do BRT.
Mapa da rede de BRT Transmilenio. Fonte: mapas.bogota.gov.co |
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Corredor Transmilenio da Autopista Norte com grande movimento de passageiros |
A multa para os que desrespeitam o dia sem carro esse ano foi de 368.900 pesos colombianos, o equivalente a 390 reais, sendo registradas 1075 multas, segundo a Polícia de Transito colombiana.
Fonte: http://www.eltiempo.com/archivo/documento/CMS-16808273
Pois bem, feita essa introdução vamos aos registros do dia!
Centro
Foi a área da cidade onde mais fiquei, por ser onde se concentram a maior parte dos empregos na cidade. A Alcadia de Bogotá instalou pontos de hidratação e de suporte aos ciclistas, onde eram servidos copos d'água e assistência técnica. As 7:30 da manhã, com o relógio marcando 9 graus, o movimento de bicicletas estava intenso pela Carrera 7, uma rua conhecida pelo comércio intenso ligando o Centro a zona norte da cidade.
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Movimento intenso de bicicletas na saída do trabalho |
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Ponto de Hidratação montado pela Alcadía de Bogotá |
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Carrera 7 fechada à ciclistas e pedestres |
Além disso, uma iniciativa da Alcadia mês passado (jan/17) tornou a Carrera 7 completamente fechada a bicicletas e pedestres, havendo a colocação de mesas e cadeiras com barracas para relaxar e tomar um café. Tinha até mesmo um campeonato de xadrez rolando! Junto a isso, no Dia Sin Carro, havia também um palco na Praça Santander, junto ao Museu do Ouro, onde eram apresentados pequenos shows para entreter quem passava.
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Carrera 7 no Centro Internacional |
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Eje Ambiental |
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Vagas de estacionamento vazias |
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Ciclista na Plaza Bolivar, coração da área histórica de Bogotá |
A zona norte de Bogotá é outra área que concentra muitos empregos, com muitos centros comerciais e de negócios, sendo atravessada pela Autopista Norte, pela via expressa NQS e pelo final da Carrera 7. Todas essas estavam com pelo menos metade da capacidade dedicada para a passagem dos ciclistas.
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Autopista NQS no bairro Usaquen fechada aos ciclistas |
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Corredor Transmilenio Norte |
Oeste
Pela parte de tarde passei pela região da Avenida El Dorado, principal via de ligação entre o Centro e os bairros da zona oeste, e com o Aeroporto. Ao redor dela se concentram muitos órgãos governamentais e mais prédios de escritórios, centros de exposição e shopping centers. Como eu fui em uma hora de menos movimento (entre 1 e 2 da tarde), tanto o movimento nas ciclovias como no transporte público estava bem tranquilo. Pouquíssimos veículos passando pelas 4 faixas de rolamento da Avenida por sentido, mas o movimento de trabalho normal aparentemente estava sendo mantido, com muita gente nos restaurantes e nas calçadas. Já os bicicletários da região estavam completamente cheios.
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Corredor Transmilenio na Avenida El Dorado |
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Bicicletário cheio em uma das estações do Transmilenio |
No final de tarde havia um movimento intenso de bicicletas saindo do Centro para os demais bairros pela Autopista El Dorado.
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Movimento exclusivo de bicicletas e do Transmilenio na Autopista El Dorado |
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Bicicletas na Avenida El Dorado |
Observações finais:
No final achei a experiência de vivenciar um dia sem carro bastante positiva, com a oportunidade de observar as pessoas indo fazer as atividades cotidianas apoiadas pelo sistema de transporte público ou usando os meios não motorizados. Foram visíveis as consequências, com um movimento maior de pedestres e bicicletas nas ruas, e ao menos uma poluição sonora bem menor. Quem conhece Bogotá sabe que o trânsito pode ser infernal, especialmente as buzinas. Parecia em muitos aspectos um movimento nas ruas de fim de semana, mas com todo o comércio e serviços abertos e em horário de funcionamento normal.
-Vi uma alta adesão da população de forma geral, com bastante gente nas calçadas e usando as bicicletas e o transporte público, conforme revelado nos dados apresentados pela Alcadía.
-A estrutura montada de apoio aos ciclistas, não apenas com o fechamento de ruas e avenidas para as bicicletas mas também montando pontos de apoio e suporte técnico é um ponto alto. Também achei bem legal a colocação de mobiliário urbano para usufruir melhor do espaço público no Centro, incluindo um mural de diálogo com a população a respeito das intervenções e possíveis melhorias.
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Painel de opiniões da população acerca da dedicação exclusiva da Carrera 7 para pedestres e ciclistas |
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Tenda de atividades na Carrera 7 em frente a Plaza Santander |
-Também houve bastante propaganda da Alcadia e de órgãos de trânsito nas ruas e meios de comunicação.
-Senti falta de um sistema público de aluguel de bicicletas, como há nas grandes cidades brasileiras e (no caso da Colômbia) como em Medellín. Não sei se é por causa da já alta posse de bicicletas por habitante, mas duvido que não houvesse usuários frequentes o suficiente para manter a operação. Em um dia sem carro, fica o sentimento de que esse sistema poderia dar um alívio ainda maior à lotação do transporte público bogotano, que não conta com nenhum sistema massivo de transporte sobre trilhos.
-Também senti falta de mais vagas públicas para bicicletas nas ruas e praças da cidade. Muitas estavam amarradas em postes ou em árvores, e a Alcadia estava rigorosa com a fiscalização, apreendendo e multando os ciclistas que colocam as bicicletas em lugares inadequados.
Até a próxima!